Por Sylvio Micelly
Na metade final dos anos 90, século e milênio passados, uma iniciativa do jornalista Sergio Pires fez com que surgisse O Bairro. O periódico, que teve cerca de uma dúzia de edições, tinha como missão “Pensar globalmente, agir localmente“, célebre ensinamento do sociólogo alemão Ulrich Beck.
Era um outro período. A internet caminhava a passos lentos, ainda era discada e cara, o que restringia o acesso às madrugadas. Redes sociais, no máximo, era uma agenda com alguns contatos importantes, muito antes do termo networking. À época, a diagramação dos jornais era híbrida, parte em programas de computação avançados para aqueles anos, parte ainda feito na unha, em notívagas sessões de past-up.
Algo, porém, não mudou. Sergio Pires anteviu que o mundo seria globalizado e que discutiríamos as desavenças do Irã e dos Estados Unidos ou a mudança de rumos do mais novo casal real britânico. Mas… os problemas que realmente nos afetam – saneamento, buracos nas ruas, segurança etc – seriam relegados às planilhas estatísticas e aos discursos das campanhas políticas. O jornal cumpriu seu papel e ainda trouxe entrevistas importantes para aquele final de década.
Hoje tudo ficou mecanizado. Damos bom dia nos grupos de WhatsApp, mas provavelmente nem sabemos quem são os nossos vizinhos. Neste universo paralelo que a globalização nos impõe, esquecemos do “agir localmente” em benefício da nossa própria comunidade.
Por tudo isso, o retorno da versão impressa d’O Bairro é uma luz num excesso de informações que tem pouca valia para o nosso cotidiano. Parabéns aos envolvidos.
Sylvio Micelli – 14 – I – MMXX