Aos 95 anos de idade, Padre Antônio Alves, fundador da Igreja Católica Santa Edwiges, na Avenida Cupecê, e também um dos responsáveis pelo desenvolvimento do bairro do no Jardim Miriam, no inicio dos anos 60, doa a igreja ao Ministério Católico Romano, pertencendo à diocese de Santo Amaro. Depois de décadas como igreja Ortodoxa, agora as missas celebradas por Padre Antônio seguem à liturgia da igreja Católica Romana.

Um dos responsáveis pela formação e urbanização do bairro do Jardim Miriam, Padre Antônio Alves, doou a tradicional igreja Santa Edwiges ao Ministério Católico Romano, pertencente à diocese de Santo Amaro. Segundo o padre, em 2016 decidiu agregar a Santa Edwiges ao ministério Católico Romano e foi autorizado pelo bispo da Diocese de Santo Amaro Dom Giuseppe “José” Negri a permanecer no posto. A igreja Santa Edwiges, é a mais antiga do bairro, fundada em 1963 pelo Padre Antônio e pertencia ao ministério da Igreja Católica Ortodoxa Militante, porém ficou popularmente conhecida na região como “Igreja Católica Brasileira”.
“A igreja era católica ortodoxa, nunca foi brasileira”, corrigiu o Padre Antônio, responsável pela fundação da igreja em 1963, sendo uma das pessoas mais importantes da região para o desenvolvimento do Jardim Miriam e da Cidade Ademar. No inicio dos anos 60, o padre ajudou a assentar dezenas de famílias no bairro que não tinham onde morar. “Existia uma favela próximo ao Clube dos Aeroviários no Aeroporto, tirei aquele povo de lá, e trouxe para o Jardim Miriam. Naquela época o bairro era um grande campo com vários lotes, e todos vieram para cá. Ajudei a ‘desfavelar’ aquela área, pois trouxe muitas famílias para cá”, disse.
Inicio – Ordenado padre em 1961, Padre Antônio trabalhava como secretário do bispo da igreja de Nossa Senhora da Aparecida Dom Francisco Borja do Amaral, e veio para São Paulo para começar seu ministério. Ainda em 1961, fundou a igreja Católica Ortodoxa Militante Comunidade Nossa Senhora de Loreto, na Rua Marília de Dirceu, 491, no bairro do Jardim Aeroporto. “O bispo foi trabalhar para a Congregação de Santo Afonso e eu o ajudava como secretário. Nesta época, a missa inteira era em latim”, relembrou fazendo uma prece em latim.

“Existia uma favela próximo ao Clube dos Aeroviários no Aeroporto, tirei aquele povo de lá, e trouxe para o Jardim Miriam. Naquela época o bairro era um grande campo com vários lotes, e todos vieram para cá. Ajudei a ‘desfavelar’ aquela área, pois trouxe muitas famílias para cá.”
Padre Antônio
Após construir a igreja do Aeroporto em 1961, junto com a comunidade local, Padre Antônio tinha mais um desafio: propiciar qualidade de vida e dar novos sonhos para as famílias que estavam em condições precárias no bairro do Aeroporto. Foi quando descobriu o bairro do Jardim Miriam, uma região com muitos lotes e com poucas casas. “Lá, naquela época, o Aeroporto tinha uma favela, uma comunidade muito pobre e o Jardim Miriam era um bairro novo, com poucas casas e muitos lotes baratos à venda”, comentou.
Em 1963 Padre Antônio começa seu ministério no Jardim Miriam com a comunidade da Igreja Santa Edwiges, quando trouxe dezenas de famílias do aeroporto para o bairro e construíram com a ajuda do povo, uma igreja ainda de madeira. “Praticamente, desfavelei uma comunidade do aeroporto, e o povo que veio para cá junto com a comunidade local construímos a igreja. As pessoas vieram da comunidade ‘Risca faca’ e ‘Buraco Quente’, e vieram ter novas condições de vida em um novo bairro que estava nascendo que era o Jardim Miriam. Nunca fiz nada sem contar com a participação do povo. Percorria todas as casas no aeroporto para rezar. Fiz o mesmo aqui, saia às ruas com a imagem de Nossa Senhora e rezava o terço nas casas dos moradores. Eu tirava as pessoas daquela favela e as trazia para o Jardim Miriam, pois aqui era um grande campo e com esperança de um bom lugar para morar”, disse.
Preconceito – Por pertencer ao Ministério Católico Ortodoxo Militante, o Padre relembra de vários de preconceito que sofria de católicos de outras igrejas.
“Nunca fomos da igreja Católica Brasileira. Várias pessoas falavam mal de nós, e faziam criticas à nossa igreja. Ao contrário disso, sempre estivemos ao lado das igrejas locais. Inclusive quando queriam derrubar as casas e a Paróquia Nossa Senhora de Aparecida, aqui na Cupecê, para a construção de um terminal de ônibus. Isto aconteceu durante o governo da Prefeita Luiza Erundina, e fomos para a rua, contra esta proposta, e a prefeita me recebeu em seu gabinete e impedimos que isto acontecesse. Nosso trabalho sempre teve a comunidade como prioridade”, relembrou segurando uma foto do encontro.

“Vários padres nos criticaram, algumas pessoas falaram mal de nós. Mas sempre estivemos do lado deles e do lado do amor. Hoje o pessoal é meio vazio de fé”, lamentou.
Nova fase – Atualmente a igreja pertence à diocese de Santo Amaro. Mas a doação também não foi um ato simples. O padre também doou a igreja Comunidade Santa Faustina no Aeroporto para a Diocese de Santo Amaro. Segundo ele, no momento da doação, Don Fernando sugeriu que o caso deveria ser decidido em Roma, pelo Papa. “O novo bispo da Diocese de Santo Amaro, Dom José Negri autorizou que continuasse aqui na igreja, devido aos anos de trabalho como pároco local. Meu caso iria para Roma, mas o bispo deixou que continuasse ordenando as missas. Aqui continuarei enquanto eu viver”, comentou o padre.

Terreno da Igreja – Hoje a Igreja Santa Edwiges fica na Avenida Cupecê, 5205, ao lado da UBS Jardim Miriam II. Mas o terreno poderia ser bem maior. Segundo o padre, em 1963, um fiel que frequentava a igreja, Sr. Francisco Armando doou o terreno que era muito grande, ia praticamente até o Poupa Tempo, mas logo após a doação ele faleceu e seus filhos não aceitaram e não reconheceram a doação. “Por conta disto, tivemos que comprar o lote onde a igreja está localizada. Quem ajudou a comprar foi uma fiel frequentadora da igreja, Dona Amara de Oliveira Alves, que pagou o lote com a rescisão de seu contrato de trabalho”, revelou.

Amara ajudava em todos os trabalhos da igreja, como os cursos de catecismos, batismos, casamentos, entre outros serviços junto à comunidade. Milhares de pessoas do bairro foram batizadas e fizeram o curso de catecismo na igreja. Revelando um arquivo com nomes de milhares de pessoas. Amara ajudava a organizar todos estes eventos, até 1991, quando faleceu. Na época, sua filha Roberta Karina Oliveira Alves, tinha apenas 10 anos, e foi “adotada” pelo Padre Antônio. Hoje Karina auxilia o padre em seus trabalhos junto à comunidade e também com a escolinha das crianças. “Desde que a minha mãe faleceu, o padre me adotou e me criou”, disse Karina.
Padre Antônio também conta com a ajuda de Lourdes dos Santos Brunelli, da Associação Santa Edwiges, desde 1984. Esta associação ajuda na manutenção da igreja e sempre colabora com os serviços junto à comunidade.
Empolgado com a sua nova fase, Padre Antônio apresentou o fardamento que celebra as missas. Hoje seguimos a liturgia católica Romana. “Antes não usávamos certas regras que hoje temos”.

Sonhos – Aos 95 anos, Padre Antônio já não sai às ruas como antes, mas gosta de lembrar o passado. “Aqui era tudo capim, ajudei a fundar a pedra desta igreja junto com a comunidade, afinal vivemos a custa deles”, comentou.
Olhando parta a imagem de Nossa Senhora no canto da parede, ele aponta para ela e relembra: “Com esta imagem eu percorria todas as casas, rezava o terço e benzia as casas. Eu andava por aí, ia de casa em casa. Fiz isto no aeroporto e também pelas ruas do Jardim Miriam”, relembrou.
Hoje o maior sonho do Padre Antônio é comprar um relógio para igreja. “Estou guardando dinheiro. Queria comprar um relógio bem grande que pudesse ser referência para nossa igreja. Mas não sei se vou conseguir, por conta da minha idade. O relógio custa R$ 6 mil. Não sei se vou conseguir guardar este dinheiro todo, não sei se morro antes”, finalizou.·.
Para colaborar com a igreja ou marcar uma visita, ligar para o telefone (11) 5621-7316.
Muito bom saber ….Morei no Jaú ,,,lembro da Igreja,,,da escolinha,,,da escada de madeira…Padre exemplar.
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Obrigado Yara, pela leitura e participação.
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Amei a reportagem, nasci no jardim Miriam e fui muitas vezes nessa igreja, minha mãe batizou minha prima lá, sempre via o padre Antônio nas ruas do bairro sempre sereno. Parabéns pela reportagem.
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Amei a reportagem, nasci no jardim Miriam e fui muitas vezes nessa igreja, minha mãe batizou minha prima lá, sempre via o padre Antônio nas ruas do bairro sempre sereno. Parabéns pela reportagem.
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Legal conhecer este jornal, cujo editor é o Sérgio. Lembro dele tempos de Habib. Para bens!! !
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