Crônica Urbana
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Aos invisíveis

Há um romance adolescente fantástico do escritor Stephen Chobosky, chamado “As vantagens de ser invisível”, que relata o problema de um jovem perante ao mundo e ao seu amadurecimento. Ser invisível, é passar pela vida sem ser notado, não ter a noção de “pertencimento” e também não querer fazer parte dele, ou seja, manter à distância. Entretanto, em tempos de crises sociais na qual estamos vivendo, temos testemunhado milhares de pessoas invisíveis, só que desta vez, elas aparecem nas ruas vendendo balas ou água nos faróis, estão morrendo nas filas ou nas UTIs dos hospitais e ninguém às vêem.

Estes dias, um senhor aparentando uns 50 anos se aproxima do meu carro e despeja um liquido com água e sabão. Em menos de um minutos enxugou e veio até a mim pedir uns trocados. Nâo tinha. Duas quadras depois, ao parar em um outro semáforo, uma menina, aparentando uns 14 anos, aparece correndo entre os carros e coloca dois pacotinhos de balas de hortelã por R$ 2. Não tinha o que dar a ela e também, e lembrei que desaprendi a gostar de balas e chicletes.

Mais tarde, fui ao mercado e fiz uma pequena compra, paga com o cartão. Bem na saída, estava uma mulher, de meia idade, com uma caixa lotada de drops, talvez não tenha vendido nenhum até aquele horário, que era umas 18h30. “Me compra estas balas moço!”, ela me disse quando estava saindo. Mais uma vez não tinha o que dar.

Ao entrar no carro e ir para casa, percebi que vários moradores de rua, já estavam se aglomerando em algumas lojas que acabaram de fechar. Eram frentes de lojas que tinham coberturas, alí se ajeitavam cada um em seu cantinho. Todos os carros passando bem em frente e eles não eram vistos.

Me senti muito mal ao chegar em casa com esta situação. E me deparei mais revoltado com os governos de todas as esferas, pois eles sim, são os culpados, com uma política ridícula que prioriza o capital, não o ser humano. Nossos governantes colocam a culpa, no “desemprego”, “na crise sanitária”… Sim, mas sem uma política de distribuição de renda adequada, o número de pessoas invisíveis tende a aumentar e sabemos que a “mão invisível” do mercado está ausente. Que o novo governo a partir de 1º de janeiro possa ter uma “mão visível” e que estas pessoas possam deixar de serem invisíveis e que os nossos olhos deem atenção a quem não é visto.

Este post foi publicado em: Crônica Urbana

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Formado em Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo, Letras, pela Faculdade Diadema. Pós-Graduado em Estudos Linguísticos e Literários pela Fundação Santo André. Andante das ruas da Cidade Ademar e de toda São Paulo e apaixonado pelas comidas de boteco e futebol, principalmente futebol de várzea.

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