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Aos invisíveis

Há um romance adolescente fantástico do escritor Stephen Chobosky, chamado “As vantagens de ser invisível”, que relata o problema de um jovem perante ao mundo e ao seu amadurecimento. Ser invisível, é passar pela vida sem ser notado, não ter a noção de “pertencimento” e também não querer fazer parte dele, ou seja, manter à distância. Entretanto, em tempos de crises sociais na qual estamos vivendo, temos testemunhado milhares de pessoas invisíveis, só que desta vez, elas aparecem nas ruas vendendo balas ou água nos faróis, estão morrendo nas filas ou nas UTIs dos hospitais e ninguém às vêem. Estes dias, um senhor aparentando uns 50 anos se aproxima do meu carro e despeja um liquido com água e sabão. Em menos de um minutos enxugou e veio até a mim pedir uns trocados. Nâo tinha. Duas quadras depois, ao parar em um outro semáforo, uma menina, aparentando uns 14 anos, aparece correndo entre os carros e coloca dois pacotinhos de balas de hortelã por R$ 2. Não tinha o que dar a ela e …

“Ele não é pesado! É meu irmão.”

A famosa canção He Ain’t Heavy, He’s My Brother (gravada por diversos cantores como, por exemplo, The Hollies e Neil Diamond) tem várias teorias sobre a inspiração desta bela composição. Uma delas relata que nasceu de uma história na guerra do Vietnã, quando um jornalista viu um garoto de 10 anos carregando um menino de uns 4 anos nas costas . E ele perguntou se não era muito peso pra ele, já que estavam fugindo de um bombardeio, e a resposta do garoto foi : Ele não é um peso , é meu irmão . Uma outra versão desta inspiração, conta-se que esta música está na seguinte história: certa noite em que caia uma neve muito intensa em Washington, alguém bateu à porta da sede de um orfanato. Ao abrir a porta, o padre se deparou com dois meninos cobertos de neve. O maior trazia em suas costas o outro menino, mais novo. Com poucas roupas e rostos bem debilitado pelo frio e fome,, o padre os convidou a entrar, exclamando: “Ele deve ser muito …

As balas do farol

Com milhares de pessoas desempregadas, há cada vez mais gente trabalhando no mercado informal. Há ainda o aumento daquelas pessoas que vendem balas no farol, recarregador de baterias de telefones celular e crianças que são utilizadas pelos pais para ganharem trocados lavando os vidros do carro nos sinais. Agora estão surgindo uma nova leva de pessoas que ganham alguns trocados: são os malabaristas e mágicos, que durante um minuto alegram os motoristas e recebem um dinheirinho e transformam os principais semáforos da cidade em um verdadeiro ponto comercial. O lado negativo são as crianças que são exploradas nestes locais revelando à sociedade que a política social falhou em todos os aspectos, no âmbito federal, estadual e municipal. Quando uma criança bate nos vidros fechados de nossos carros, apenas balançamos a cabeça dizendo que não temos nada, no máximo, procuramos algumas moedinhas e damos as crianças. Mas também poderíamos, como sociedade exigir mais de nossos governantes por uma educação transformadora a começar com a escola que deveria acolher esta criança, pois nestes tempos de crise a …

Quem é você? Qual é o seu nome?

Quando alguém pergunta pelo meu nome, tenho o maior prazer em me apresentar. Agora, quando alguém me pergunta: “Quem é você?” É tão estranho que me sinto ofendido, pois nesta altura da vida, em uma sociedade tão cheia de números mal sabemos quem somos, por exemplo: na ficha do dentista, apareço como cliente; no restaurante, sou freguês; se alugar uma casa, sou inquilino; no ônibus, sou passageiro; na faculdade, sou estudante. Para piorar a situação, temos múltiplas identidades, quando vou ao supermercado, sou consumidor; para a Receita Federal, sou contribuinte; se não pago, sou sonegador. Nesta semana, vi que a fatura do meu cartão de crédito tinha vencido, então sou inadimplente. Ano que vem haverá eleições, então, serei eleitor; no comício, sou massa; em viagem, sou turista; na rua, caminhando, sou pedestre; se me atropelam, sou acidentado; no hospital, me transformo em paciente e para os jornais, serei a vitima. Mas, se comprar um livro, me transformo em leitor; ao ligar o rádio, serei ouvinte e para alguns institutos de pesquisas sou um mero espectador. …

Singelamente

Foi bem assim, devagar, entende? Eu estava andando pela Avenida Cupecê, lá na Cidade Ademar, quando eu a vi entrando na igreja. Ela estava toda nua e estava sozinha. Era uma morena de aproximadamente 1.70 de altura com os cabelos cacheados e cumpridos até a cintura. Pensei até que fosse pegadinha ou propaganda de televisão. Dois dias depois descobri que o Carlos a conhecia, e ele me disse que o nome dela era Penélope. Achei estranho, pois nunca conheci ninguém com o nome de Penélope, a não ser a da literatura. Contei o fato ao Renato, e, de imediato ele desmentiu o Carlos e disse que esta menina estudava no Leonor Quadros, uma escola pública da Cidade Ademar, e que o nome verdadeiro dela era Amélia e que estava muito deprimida por ter acabado o seu casamento. Semanas se passaram e eu encontrei a Suzi, e sem querer ela tocou no assunto da mina que entrou nua na igreja. Ela disse que conhecia a irmã dela, e disse que tinha ficado louca depois de um …